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segunda-feira, 5 de março de 2012

Romance de estreia de Georges Perec é lançado no Brasil

"Uma História dos Anos Sessenta" , que está sendo lançado agora no Brasil pela Companhia das Letras, é seu livro de estreia. Publicado em 1965, é anterior ao OuLiPo, mas nele já se percebe a característica de Perec de fazer listas, classificar e organizar no espaço os objetos que descreve. 

Sylvie e Jérôme, casal na faixa dos 20 anos, trabalham na iniciante e promissora indústria publicitária como analistas motivacionais, entrevistando pessoas para definir estratégias que serão usadas pelas agências de propaganda. Vivem em Paris no início dos 1960, a França colonialista está em crise, há guerra na Argélia, há guerra na Indochina e o gaulismo está ascendendo ao poder. Adoram cinema, fazem longos passeios por chiques avenidas de Paris, onde admiram as vitrines das lojas e antiquários, bebem com os amigos e comem pratos baratos em restaurantes caros.

Toda a sua alegria de viver repousa sobre um ideal de riqueza que parece ter sido adquirido na leitura atenta das matérias e anúncios da revista L'Express. Tudo o que pensam, todas as ações e decisões são tomadas em função do que deveriam possuir. Amavam mais o ter do que o ser.

A história é narrada na terceira pessoa, não há diálogos ou qualquer reprodução direta da voz dos personagens. Desde o início, o texto deixa de fora o erotismo, o desejo sexual e a aparência do corpo, para substituí-los pela descrição pormenorizada, cinematográfica e objetiva das coisas: "Descobriram as lãs, as blusas de seda, as camisas de Doucet, as gravatas de voile, os lenços de seda, o tweed, o lambswool, o cashmere, a vicunha, o couro e o jérsei, o linho e, enfim, a magistral hierarquia dos sapatos, que leva dos Church aos Weston, dos Weston aos Bunting, e dos Bunting aos Lobb".

É só através de seu desejo por obtê-las que conhecemos os personagens.

A inquietante e assustadora semelhança com os dias atuais torna a leitura de As Coisas quase inevitável.



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